grafismo letal V

quando as rimas voltaram de férias

achei que era poema a prosa ecoante dos fonemas

mas eis que de um discreto enredo profético

a matéria prima da tempestuosa prosa

grafitou com sangue a rima rica da rosa

grafismo letal IV

quando as rimas saíram de férias

achei que era prosa o acorde entoado à capela

mas eis que de uma antiga cantiga ribeira

o agudo cortante do canto das lavadeiras

grafitou com sangue o aplauso mudo da platéia

grafismo letal III

Quando as rimas saíram de férias

achei que era prosa a paisagem esmiuçada nas telas

mas eis que de um inesperado respingo do pincel

o relevo vazado das tonalidades primárias

grafitou com sangue a tez esmaecida da aquarela

grafismo letal II

quando as rimas sairam de férias
achei que era prosa o espinho exposto das rosas
mas eis que de uma invisível pétala de quimera
a abelha melíflua da ensadecida colmeia
grafitou com sangue o pólen estéril das bromélias

grafismo letal

quando as rimas sairam de férias
achei que era prosa a invenção oculta na glosa
mas eis que de alguma longíqua esfera
o brilho ofuscante dos punhais estelares
grafitou o fio de sangue na presa da fera

solilóquio

um
desses
dias
em
que
a
palavra
nem
mesmo
larva
urdia


só
o
silêncio

esse
tigre
cinético

no
regaço
do
escuro
rugia

noite e dia

essa

canção

inexata

que

não

ata

nem

desata

a

voz

ingrata

que

engasga

o

sim

blue note

a

nota

azul

cerzia

o

ser

que

jazia

à

luz

do

blues

Música que dá nome ao show (letra)

canoa canora

a
cuniã
tem
as
ancas
as
curvas
de
canoa
caverna, ecoa

é
montaria
aérea
à
deriva
no
lago
flutua, avoa

no
corpo
o
movimento
dos
barcos
da
popa
à
proa

a
cuniã
é
uma
canoa
sem
ilharga
sem

quilha

à-toa

Canoa Canora: a estréia

gente
canções
instrumentos

os
corações

na
batida
vital

marcam
o
tempo
da
emoção

à-toa

companhia

a
música
na
janela
do
dial

quase
um
raio
no
viés
da
razão

enchia
o
sábado
de
sabedoria

companhia

éramos
apenas
nós

amarrados
um
ao
outro

solitude

habito

o

planeta

silêncio

(

tão-só

um

sótão

no

solilóquio

cósmico

)

por

aqui

(

além

de

mim

)

só

estes

versos

vingam

solitude (in blues)

quase
nave

quase
ave

quase
never

quase
ever

quase
quasar

quase
azar

só
a
diva
do
riso
divino
arrisca
o
divã
fescenino

solidown

distonia

factual

&

sintonia

virtual

o

corpo

ensandece

no

solitário

solo

dança

elíptica

eclipse

explícita

solidown

só

como

se

isolado

em

signos

sigo

em

linha

reta

ao

vazio

do

verso

torto

s.o.s@a sós.sem

ali
sem
asa

sem
som

sem
imagem

aliciado
pelo
solo
do
silêncio
de
alice

da solidão

tão
só

tão
solo

tão
sol

nesta
constelação
de
silêncios
&
cios

jogos florais

as
rosas
azuis

à
sombra
de
dálias
negras

polenizam
damas-da-noite

jogos florais

a
begonha-asa-de-anjo
ganha
espaço
no
bico
do
pássaro

despe
se
das
lagartas
semi
bortoletas
tecidas
em
pétalas

vai
no
vão
violeta
das
asas

jogos florais

se
passas
prosa

o
miosótis
orna
o
verso
de
orquídias
&
rosas

se
passas
poema

o
jasmim
solfeja
o
jazz
do
jardim
na
cena

jogos florais

naquela manhã
toda as flores
estavam ausentes

nem mesmo os espinhos
compareceram
aos rituais matutinos

apenas
o girassol
do alto de sua amarelidão petalar
roçava versos no além solar do azul
afinando farpas & afagos sinfônicos

jogos frugais

seu

olhar

mulungu

seu

olor

guaraná

sua

tez

urucu

seu

suor

aluá

jogos frugais

de
todas
as
frutas
as
mais
polpas

de
todas
as
ervas
as
mais
loucas

de
todas
as
fêmeas
as
mais
soltas

jogos frugais

o
sol
salta
aceso
no
ciã
celestial
da
aurora

as
romãs
se
roçam
&
se
adoçam
na
aura
áurea
da
manhã

jogos frugais

veja
a cereja
ama
a amora

não
fere a fauna
nem
ufana a flora

só
melhora
o
amor
pela
amora

só
namora

respirando água

a

chuva

achava

o

soluço

do

choro

ácido

alargava

a

lágrima

&

alagava

a

alegria

alegórica

dos

olhos