disfarces

me
acalmo
com
a
calma
do
gato
que
suspeita
dum
surto
de
ratos

Disfarces

a
história
traz
a
vitória

e
a
glória
é
de
quem
"não
espera
acontecer"

Disfarces

todas

as

frutas

inclusive

as

bichadas

têm

direito

a

um

lugar

no

vergel

só

não

podem

com

a

desfaçatez

da

venenosa

erva

lesar

a

beleza

seletiva

da

seifa

Disfarces

a

lente

do

fantástico

revela

:

o

"cérebro

pensante"

do

poder

nefasto

é

de

plástico

Disfarces

canto

para

minar

o

cansaço

do

compasso

de

espera

trino

para

eletrizar

o

silêncio

no

grito

das

esferas

oro

para

a

aurora

anunciada

iluminar

a

vitória

Disfarces

de
viés

no
vértice
&
vórtice
das
vias

pita
o
pirulito
etéreo

aceso
pelo
anjo
lúdico

da
psicodelia

Disfarces

o
poema
vale
a
pena
ainda
se
a
alma
é
pequena

ascende
o
tom
das
vozes
no
silêncio
surdo
dos
seres

apaga
a
feição
fática
que
esboça
o
verso
servil

rabisca
a
rima
que
jamais
seria
de
luta
não
fosse
o
groove
grave
da
greve

grávida
de
sons
&
sonhos
afins

Disfarces ou

submundo legalizado

os
vermes
se
embriagam
de
dejetos
&
desejos
podres

eles
bebem
&
festejam
o
vômito
verbal
de
seu
amado
mestre
das
tramas

no
lodo
corrupto
em
que
se
borram
de
medo
só
os
seus
olhos
sombrios
&
falaciosos
chispam

Disfarces

por
trás
da
lente
escura

a
mente
cega
do
poder
delira
rojões
motins
revoluções

o
pirulito
passeia
audaz
pela
boca
que
anuncia
a
paz
que
nos
guia

Disfarces

saiu

de

fininho

pela

porta

entreaberta

do

medo

carregava

consigo

o

que

já

não

era

segredo

restou

apenas

o

rastro

luzidio

dos

vermes

Disfarces

as

hienas

conhecidas

por

seus

sorrisos

fétidos

gargalham

enquanto

se

lambuzam

de

fezes

Disfarces

entre
as
folhas
e
as
falhas
dos
galhos

ilhas
de
fagulhas
se
espalham
no
espelho

Disfarces

a

cara

de

paisagem

antes

do

gesto

letal

revela

a

desfaçatez

fatal

da

fera

Disfarces

diz

que

me

ama

e

assoa

o nariz

tão

real

que

soa

infeliz

rio

feito

quem

sabe

e

se

cala

súbito sumiço da musa

súbito
some
a
musa
súbita

nada
acusa
sua
presença
na
página

nem
a
música

o
verso
que
escrevo
cifra
sua
ausência
na
cena

seu
sabor
de
musa
súbito
salta

sabe
a
palavra

musa súbita

sumiu

e

o

que

ficou

no

ar

exalava

um

leve

olor

de

cio

levou

consigo

meus

olhos

de

rio

musa súbita

uma

ninfa

anárquica

salta

sobre

a

página

pálida

e

grafita

um

rabisco

esbelto

musa súbita

a
tatuagem
-
do
cangote
à
espádua
da
galega
-
é
paisagem

as
madeixas
louras
que
saltam
soltas
em
suas
costas
são
miragens

o
sabor
de
ameixa
e
o
olor
rosáceo
do
seu
sexo
são
selvagens

Musa súbita

na
noite
em
que
quase
foi
minha

pedia
estórias
e
só
havia
poesia

queria
ação
e
só
havia
magia

depois
se
foi
intacta
pela
manhã
vadia

Musa súbita

feita

de

vento

e

areia

sumiu

por

entre

meus

dedos

na

luz

azul

da

lua

cheia

Musa súbita

só
seu
rastro
no
vão
da
tarde

só
seu
cheiro
no
chão
da
cama

só
a
chama
da
ausência
arde

Musa súbita

na
noite

na
chuva

no
vento

ia
nua

ia
nau
na
maré
das
ruas

ia
lua

Musa súbita

da

primeira

vez

a

impressão

de

que

tudo

está

aquém

de

ti

da

segunda

vez

a

intuição

de

fugir

ao

teu

disfarce

de

cisne

da

terceira

vez

a

opção

de

ficar

em

silêncio

e

só

memória mágica X

claro

como

a

neve

branca

foi

o

objeto

oculto

no

desejo

dos

anões

memória mágica IX

o

cisne

no

espelho

do

lago

:

narciso

em

dias

de

conde

drácula

ou

em

noites

de

patinho

feio

?

memória mágica VIII

vi pela fresta da porta a capa vermelha, o cesto de palha, o sexo singelo, a forma de fada. não lembro em que agora quis saber dos meus lábios, narinas e orelhas. não lembro em que hora pediu: me devora!

dia agnóstico

o

clínico

cínico

era

um

risco

no

disco

rígido

do

cérebro

:

rim

ruim

fígado

notívago

pâncrea

pândego

intestino

estático

sua

voz

ousando

versos

sonoros

tudo

tão

distante

tão

distinto

pedi

pó

de

pirlimpimpim

mas

sininho

havia

sumido

com

a

seringa

de

soro

lisérgico

e

peter

pan

que

sacrilégio

desligara

a

vitrola

antes

que

se

soubesse

se

era

roque

ou

réquiem

o

som

que

rolara

no

dial

memória mágica VII

não

sei

se

estava

na

prússia

ou

na

trácia

quando

rapunzel

lançou

as

belas

tranças

achei

que

valia

à

pena

escalar

suas

melenas

e

ficar

cego

na

cena

mas

já

estava

na

pérsia

e

sherazarde

sem

pressa

me

levou

na

conversa

com

uma

história

sem

fim

memória mágica VI

quando

ella

speed

veio

se

despedir

fez

jura

que

a

magia

das

alturas

logo

a

traria

pra

mim

não

veio

até

agora

e

decerto

o

corvo

que

gralha

lá

fora

levará

embora

o

que

dela

restou

aqui

dia delas

no
dia
das
mulheres
mesmo
alhures
lembrei
de
mandar
flores
de
lírio
para

o

delírio

de
dolores

memória mágica V

sim

eu

confesso

:

comi

bela

!

não

pude

negar

minha

natureza

de

fera

memória mágica IV

polegar
com
as
botas

7

léguas
do
gigante

eu
com
as
botas
do
marquês
de
carabás


sal

ta

mos

juntos

das

montanhas
de
sonora

dom
juan
e
dom
genaro

espreitavam

memória mágica III

a

bela

adormecida

em

minha

cama

e

eu

sem

saber

por

onde

começar

a

beija-la

memória mágica II

nem
os
três
porquinhos

nem
as
três
casinhas

nem
o
mau lobinho

apenas
o
vento

destelhando
casas

implodindo
lobos

me
leva
embora

Lero com o leitor 5

como

alpiste

desde

o

dia

em

que

me

ordenou

tal

tolice

e

agora

já

não

importa

seu

silêncio

ou

seu

palpite

nem

sua

crendice

em

sentido

que

se

explique

e

por

pura

mesmice

seguirei

rabiscando

o

que

lhe

parece

nonsense

mas

lhe

digo

sem

embuste

:

se

não

criar

meus

repentes

não

chegarei

a

velhice

acredite

Lero com o leitor 4

aí

insistiu

que

o

sentido

é

o

seu

limite

e

que

nem

mesmo

um

dedo

em

riste

lhe

faria

dar

palpites

falei

que

na

poesia

o

sentido

suspenso

suspira

e

importa

muito

um

desvario

que

decifre

o

grafite

me

mandou

comer

alpiste

passarinho

que

sou

nem

ao

menos

fiquei

triste

lero com o leitor 3

nem
ligou
pro
queu
disse

achava
tudo
tolice
quase
sempre
um
despiste

lia
porque
queria
saber
se
valia
à
pena
a
poesia

não
se
importava
se
alguma
coisa
eu
calava
ou
dizia

nem
queria
expor
o
que
pensava
ou
sentia

eu
disse
:
fale
então
sobre
o
que
não
pensa
ou
sente

vê
se
permite
o
apalpar
do
palpite

ouvi
quando
baixinho
disse
:
vou
até
onde
o
sentido
admite

lero com o leitor 2

eu

lhe

disse

:

vai

insiste

não

é

nada

que

lhe

custe

+ q 1

chiste

ou

- q 1

fetiche

falei

mais

:

não

desiste

a

palavra

é

o

que

resiste

no

que

lhe

posso

dar

de

alvitre

persiste

vai

critica

este

rap

repente

na

paz

do

pastiche

sê

meu

derviche

Lero com o leitor

eu

lhe

disse

:

comenta

diz

o

que

acha

ou

sente

quando

lê

meus

repentes

o

silêncio

foi

desconcertante

feito

uma

resposta

distante

pensei

:

não

importa

nada

em

mim

é

urgente

Memória mágica I

em OZ

não fui

homem de lata

homem de palha

ou leão covarde

nem fui

voz de mágico

ensinando que os tijolos

são o elo

entre o real e o irreal

do amarelo

não fui bruxa

do leste ou do oeste

nem Totó ou Dorothy

nem balão ou estrada

fui mais o eterno sorriso

do gato de Alice

num país encantado

de uma outra estória

goteira da memória

chove de novo em porto velho
e se faz plúmbeo o verso mais singelo

as lembranças içadas de outrora
são feitas de crianças rindo rio afora

a paisagem se lambuza de manga
e refaz as ruas alagadas de calama

teço finos de recordações futuras
neste pretérito presente que se mistura

Disfarce

não escrevo pra me mostrar
escrevo pra me ocultar
e ainda que o sol me oriente
só a noite é o meu norte

sétimo

às
sete
horas
já
chegado
em
casa
e
tomado
banho
achou
estranho
a
gaita
ponto
de
borghetti
a
pontear
a
sétima
do
pontal

no
sétimo
andar
ainda
era
dia
sete

terceiro

três
tristes
tigres
sem
dentes
batem
a porta
do
dentista
às
três
da
tarde
do
dia
três

três
beijos
pra
casar
de
boca
banguela
dá
azar

seja
tigre
de
benguela
ou
de
bengala

o
dentista
deu
três
suspiros
e
a
tarde
sumiu

primeiro

no
primeiro
dia
vieram
ao
evento
as
palavras
que
costumam
narrar
as
histórias
do
tempo

ou
seriam
do
vento
?