domingo, 26 de abril de 2009

Arte e Comunicação

Ficção para uma biografia autorizada

Nasci no décimo quarto dia do primeiro mês do último ano da quinta década do século passado. Reza a lenda que foi no meio de uma manhã ensolarada e invernal, na qual gaivotas brincavam de inventar fissuras sonoras no incomensurável azul. A cidade e a maternidade beirando o Madeira – pleno de barro e troncos trazidos pelo degelo andino – oportunizaram ao choro recém-nascido misturar-se ao sussurro das águas no roçar das ribanceiras e ao esguicho dos botos nos remansos e enseadas. Vem daí, acredito, o hábito de expressar e referenciar a linguagem em palavras, imagens e sons.

Menino, preferi creditar à fantasia grande parte do meu olhar o mundo. Os papagaios empinados ao vento de julho, flechando ao sabor das peripécias das correntes, tramavam, na cumplicidade entre a linha e o papagaio, a condução do vôo no olhar do menino. Ver para mim virou voar. Ler para mim virou voar. Voar para mim virou transcriar as impressões que apreendemos do mundo em palavras. Assim venho aprendendo o jogo da linguagem.

Comecei copiando os meus autores preferidos. Interiorizava a mágica e com ela construía as asas que me possibilitariam superá-la.
Nesse processo de assimilação e superação, produzi artisticamente em várias modalidades de linguagem. Compus canções (com gravações efetuadas em vinil, CD e trilhas sonoras de vídeos), escrevi e apresentei peças teatrais, e escrevi e publiquei em livros de poesia e prosa.

Da poesia resultaram os livros Remo a duas mãos (em parceria com o poeta Basinho, na década de oitenta, pela editora Pannartz), Poukas, Roukas e Loukas (Mimeografado e ilustrado pelo compositor roraimense Armando de Paula, também da década de oitenta) e Na ponta da língua (pela editora Miguilim, década de noventa, adotado pela FNLIJ). Em 2003, pela EDUFRO (Editora da Universidade Federal de Rondônia), publiquei o livro de poesia Arabescos Aéreos, adotado para o vestibular de 2004 e 2005 da UNIR. Na prosa, a produção ligou-se mais ao gênero ensaístico, como a escritura em parceria com o poeta Carlos Moreira no livro Olhares sobre a Amazônia (pela Edufro, em 2001).

Continuo, apesar dessa aparência de senhor que agora me acompanha, o mesmo menino em busca dos sortilégios e encantamentos incrustados nos jogos da linguagem poética. Sei que a mágica é uma técnica que transcendeu os limites da racionalidade. Portanto, a poesia que me freqüenta está em constante movimentação e motivação na busca de garatujas e tartamudeios que atualizem a língua da tribo dos homens.
Continuo o mesmo menino, mas quando crescer quero ser boto tucuxi e ficar encantando uiaras no vai-e-vem da correnteza dos versos.

3 comentários:

  1. Pois este espaço tem mesmo a cara do Binho-Quintana, uma dupla que sempre leio em cada texto de cada um.

    Logicamente, falta ao Mário a cadência fluvial e o sabor amadeirado dos versos binhais. Eu, que me orgulhei noutras plagas onde pude e levei, compostelanas e manauaras, de privar deste conhecimento antigo de vivências iniciáticas e iniciais, posso entender como em 2011 teremos aqui a mais significativa construção poética, a se consolidar para o grande público nos próximos dois anos.
    Já estou aguardando a próxima edição e show relendo e reouvindo tudo que te trouxe aqté aqui!
    Um xêro no quengo,
    Júlio, o Rocha

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  2. vermelho olhos das meninas que nunca esquecem os homens que roubam a noite.

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  3. nunca conheci pessoa mais doce
    mais ativa nas palavras
    e quieta no olhar
    mil mundos!!!!
    onde habitará usted?

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